
Um estudo inédito adiciona novas e poderosas evidências às pesquisas que mostram que o exercício melhora a sobrevida no câncer de cólon.
O ensaio clínico, randomizado controlado com quase 900 pacientes em 55 centros de câncer em seis países, mostrou que pessoas que participaram de um programa estruturado de exercícios viveram mais tempo sem que o câncer retornasse e sem a ocorrência de novos cânceres. Os participantes do programa de exercícios tiveram um risco 37% menor de morrer e 28% menor de câncer recorrente ou novo em comparação com o grupo de controle.
Pesquisas anteriores já haviam sugerido esse benefício, mas os dados eram de estudos observacionais que não comprovavam uma relação causal, segundo especialistas.
“Agora temos evidências definitivas de que o exercício não é apenas uma intervenção para qualidade de vida e condicionamento físico. Esta é uma intervenção que melhora a sobrevida e deveria ser o padrão de cuidado”, diz Christopher Booth, autor sênior do artigo e professor de oncologia na Universidade Queen’s no Canadá.
O estudo, publicado no domingo no New England Journal of Medicine, analisou pacientes com câncer de cólon em estágio 3 ou estágio 2 de alto risco que receberam tratamento padrão de cirurgia e quimioterapia. Os pesquisadores distribuíram aleatoriamente esses pacientes em um grupo de controle, que recebeu materiais educativos promovendo atividade física e nutrição saudável, ou em um grupo de tratamento, que também recebeu apoio de um “consultor de atividade física”— um híbrido de personal trainer e coach de vida —durante três anos para aumentar seu exercício aeróbico e mantê-lo. Os pacientes podiam escolher várias atividades, como ciclismo, corrida, natação ou caiaque, mas a maioria optou por uma caminhada rápida de 45 minutos quatro vezes por semana, afirma Booth.
Oitenta por cento dos pacientes no grupo de exercícios permaneceram livres da doença após cinco anos, em comparação com 74% dos pacientes no grupo de controle. Após oito anos, o programa de exercícios havia prevenido uma morte para cada 14 pessoas que participaram do braço de exercícios do estudo.
A redução foi especificamente em mortes por câncer de cólon, disse Booth —não mortes por outras causas, como doenças cardiovasculares.
“Esta é realmente uma notícia maravilhosa, particularmente em um momento em que as taxas de câncer de cólon estão aumentando entre adultos mais jovens”, diz Michelle Holmes, professora de medicina na Universidade Harvard que estudou intervenções no estilo de vida para melhorar a sobrevida do câncer e não esteve envolvida no novo estudo. Ela acrescenta que a melhoria na sobrevida livre de doença estava “na mesma faixa” do que estudos observacionais em diversos tipos de câncer demonstraram, sugerindo que o benefício do exercício se estende além do câncer de cólon.
Normalmente, pacientes com câncer de cólon recebem cirurgia e quimioterapia e depois são enviados para casa e acompanhados intermitentemente, com orientações vagas para se exercitar e seguir um estilo de vida saudável. “Essencialmente, nós apenas cruzávamos os dedos e esperávamos que o câncer não voltasse”, afirma Booth.
Mas em 30% a 40% dos pacientes, ele volta. Os médicos disseram que os pacientes frequentemente perguntam o que podem fazer após o tratamento para melhorar seus resultados. “Claramente, um programa de exercícios tem que estar nesse menu de coisas que estamos oferecendo às pessoas como parte do cuidado realmente rotineiro”, diz Graham Colditz, epidemiologista e diretor associado de prevenção e controle no Centro de Câncer Alvin J. Siteman da Universidade Washington, que não esteve envolvido no estudo.
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Não está claro exatamente como o exercício reduz o novo aparecimento ou recorrência do câncer. A perda de peso foi a mesma entre os dois grupos do estudo, acrescenta Booth, então isso não parece ser o fator determinante. Mas pesquisadores há muito demonstram que o exercício melhora a sensibilidade à insulina e reduz a inflamação. Os pesquisadores coletaram amostras de sangue e as analisarão para esclarecer se esses fatores podem estar impulsionando a melhora na sobrevida.
Claro, o impacto real de tal intervenção dependerá de quantas pessoas podem adotar e manter um programa de exercícios. Este foi um ensaio clínico no qual os pacientes eram um pouco mais jovens e saudáveis do que o paciente típico de câncer poderia ser, e eles também já estavam motivados a se exercitar. Mesmo o grupo de controle aumentou seus níveis de exercício, diz Booth, embora o grupo de tratamento os tenha aumentado muito mais.
Envolver os pacientes em um programa estruturado de exercícios com apoio contínuo e responsabilização foi fundamental, disse Kerry Courneya, autor principal do artigo e professor e pesquisador do Canadá em atividade física e câncer na Universidade de Alberta. O programa incluiu 48 sessões com um consultor de atividade física ao longo de três anos. O consultor ajudou a solucionar problemas, apoiou os pacientes a encontrar tempo para se exercitar e torná-lo divertido, e periodicamente avaliou sua aptidão física. O custo total estimado por paciente foi entre US$ 3.000 e US$ 5.000, dependendo do centro, afirma Booth.
Terri Swain-Collins, uma participante do estudo, disse que quando começou, saber que se encontraria com uma consultora a cada duas semanas a forçou a manter o exercício. “Eu pensava, estou fazendo isso porque não posso ir vê-la e não ter feito isso”, diz Swain-Collins.
“Se eu não tivesse tido isso, não teria feito”, admite.
