A temporada 2023/2024 é uma ode aos alas. Ao mesmo tempo, o túmulo das vozes dissonantes que condenavam a escalação de três zagueiros, ligavam, a ela, uma postura defensiva. Quem profere tal heresia é emudecido a cada gol do Bayer Leverkusen. A cada bola na rede da Internazionale. Dois dos melhores jogos do mundo são jogados a partir de um sistema de três zagueiros.
Ao longo dos anos, a formação com três zagueiros evoluiu para resolver diferentes questões. O pragmático Carlos Bilardo usou (e, para muitos teóricos, criou) o 3-5-2 para dar uma sustentação defensiva capaz de liberar o gênio dentro de Diego Armando Maradona no título mundial de 1986. Na primeira década do século XXI, o esquema ressurgiu com força na Itália e potencializou as jogadas nos corredores laterais.
Na Eurocopa de 2020, algumas seleções se sentiram expostas defensivamente com uma linha de quatro atrás. A necessidade de criar superioridade numérica na fase defensiva fez o 3-5-2, e o 3-6-1, voltarem a ser uma opção importante.
As releituras de Xabi Alonso e Simone Inzaghi, na atual temporada, remetem mais ao ataque a profundidade do que, de fato, a fase defensiva. O 3-6-1 do Leverkusen, que pode virar 3-5-2, e o 3-5-2 da Inter dão vida ao ataque dos dois times, com foco nos avanços pelos corredores laterais.
Apesar de prezar pelo equilíbrio, também com melhor defesa da Serie A (apenas 12 gols sofridos em 23 jogos), a Inter, de Inzaghi, encanta no ataque. São 68 gols na temporada, e, olhando apenas pelos números, já fica evidente a importância dos alas: 21 gols (30%) foram com a participação deles.
Titular na ala esquerda, Federico Dimarco participou de dez gols em 27 partidas na temporada (sete assistências e três gols). Denzel Dumfries, que joga do outro lado, tem dois gols e quatro assistências em 21 partidas.
Além de fundamentais na fase ofensiva, em um jogo que atrai o rival para o corredor central para resolver as jogadas nos corredores laterais, defensivamente Dimarco, Dumfries e os outros alas da Inter são também protagonistas. A Inter, que alterna entre o 4-4-2 e o 5-3-2 na fase defensiva, usa bem os alas na pressão alta. Ambos avançam até o ataque para atrapalhar a primeira fase de construção do rival. Quando o time recua, ambos recompõem em 5-3-2 (clique aqui para ler mais sobre a Inter, de Inzaghi).
O Leverkusen de Xabi Alonso consegue potencializar ainda mais o protagonismo dos alas no último terço. A equipe, que soma incríveis 93 gols na temporada, sem qualquer derrota em 31 jogos, conta com 42 participações em gols dos alas (45% do total).
O jogo contra o Bayern de Munique no fim de semana, vitória soberana por 3 a 0, mostrou bem isso. Os três gols foram marcados pelos alas. A chegada ao último terço através dos corredores laterais massacrou os bávaros, mesmo Tuchel buscando replicar o 3-6-1 do rival. Adli, Wirtz e Tella atraíram bem pelo meio, com as aproximações de Xhaka e Andrich, enquanto Grimaldo, Stanisic e depois Frimpong definiram pelos lados.
O espanhol Álex Grimaldo é um dos grandes destaques da temporada, com dez gols e 11 assistências. Frimpong tem oito gols e nove assistências, enquanto Stanisic, que havia participado de apenas dois gols em três temporadas no Bayern de Munique, já soma um gol e três assistências, mais em 20 jogos pelos Farmacêuticos do que em toda a carreira.
Em 2023/2024, o 3-5-2 e o 3-6-1 projetaram os melhores alas do futebol europeu, dando protagonismo em duas das maiores ligas do mundo a jogadores que, fora das zonas mais decisivas do ataque, não apareciam antes com tamanho destaque.