A popularidade do governo está derretendo. A lua de mel entre vencedor da eleição presidencial e a população dura apenas cem dias. Daí para frente, o presidente e seus ministros devem mostrar a que vieram.
O que a população espera é que o atual governo torne a vida mais fácil e barata do que foi no passado. Para isso é necessária uma política de austeridade econômica que o presidente não está a fim de bancar, pois pode atingir a sua popularidade.
Prefere mergulhar em grandes projetos que possam mobilizar a opinião pública a seu favor. Um deles é acabar de uma vez por todas com a variação dos preços dos combustíveis. Na alta, impacta diretamente o preço dos alimentos e dos transportes públicos nas cidades.
O Brasil vive do faturamento internacional em dólar graças ao agronegócio, principalmente a exportação de café para Europa e Estados Unidos. A estatal sonhada por ele vai monopolizar a exploração e o refino do petróleo e fazer do Brasil um player importante no mercado mundial. Grupos privados são contrários à ideia e a crítica mais frequente é que ele quer ter mais um local para estacionar os seus aliados políticos.
A oposição se desdobra para desgastar principalmente o presidente. Afinal, ele é um líder popular testado em governos anteriores e o seu índice de aprovação sempre foi alto. O governo, ao se autointitular nacionalista, bate de frente com setores da burguesia industrial do país que representa o capital internacional investido no Brasil, inclusive em serviços essenciais, como energia elétrica, telefonia, bancos, comunicação, mineração, petróleo e transporte marítimo internacional.
A esquerda o apoia porque entende que é um momento decisivo para brecar a influência do capital estrangeiro no Brasil e fortalecer um embate contra os Estados Unidos, acusado pelos líderes sindicais e políticos de praticar o imperialismo.
O retrato político do momento é que há um embate ideológico entre esquerda e direita e isso contamina as instituições públicas e privadas. Há quem tema pelo pior, que o governo se coloque contra as cordas e fique sem saída política.
O presidente está cercado de todos os lados. Não tem o conforto que tinha quando governou o país. A bandeira nacionalista de intervenção do Estado na economia, a criação de empresas estatais e o decreto de aumento do salário-mínimo esbarraram na oposição liberal.
O setor industrial apoia abertamente a oposição. Os partidos conservadores no Congresso se unem e passam a acusar o governo de corrupto. Só um jornal da capital da República defende o governo, os demais o atacam diariamente.
A Última Hora é suspeita de ter se locupletado de financiamento estatal e por isso está ao lado de Getúlio Vargas. A bandeira do nacionalismo econômico levantada por ele tem o apoio dos sindicatos e por isso é acusado de querer instalar nova ditadura, como a que ele liderou de 1937 a 1945.
Há uma grave polarização política entre esquerda e direita e o acirramento da disputa se aprofunda. O grupo do palácio presidencial é acusado de um atentado contra o líder opositor Carlos Lacerda, o que deixa morto o major Vaz, da Aeronáutica. Esta exige que Vargas e seu irmão sejam levados para interrogatório na base aérea do Galeão.
O Exército, que no passado tanto o apoiou, está dividido. O vice, Café Filho, propõe que ambos peçam afastamento. Vargas diz que só sai do palácio morto. Admite que há um lamaçal de corrupção sob o palácio do governo e que envolve a própria família do presidente e seu filho. Vargas pede para um assessor escrever uma carta testamento e se suicida em 1954.
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